11.22.2006

o palhaço que tropeçou em si mesmo


curvados sobre os pratos comemos em silêncio
mas a vontade de rir é imensa
nossa despedida é nossa plenitude
nossa cumplicidade
e me distrai com medo e ânsia
o que acontecerá quando zerar o ponteiro do relógio?
o que acontecerá à partir dessa noite...
é inútil lidar com a dor...
é inútil a substituição
para dormir pratico insesto em minha alma
tomo meus comprimidos de resistência
o que me propõe em seus sonhos?
o que anda comendo?
mas um palhaço caiu da calçada...
de um degrau perto do esgoto
tropeçou em si mesmo...
ele pode fazê-lo impunemente?...
é a conveção moral do palhaço
um jardim onde ninguém passa
não possui a dignidade de ser mau pela natureza
é só um maquiado cheio de ruindades
não é um homem crescido muito menos um menino cheio de sonhos
um jovem bárbaro que supunha não ter obstáculos na subida
é uma ereção
em processo de "broxamento"...
ausente do interesse.... por interesse
sou eu que ele quer amar...
é a mim que ele tem como espelho...
são minhas coisas que ele quer ser....
faltou nele a dignidade da vergonha
ou pelo menos a santidade da arrogância pura
a criançada não achou graça
preferiram olhar os elefantes
nada... destinado a nada
cairá no esquecimento
e nem a força moral de voltar para a "quimica" de onde veio ele tem....
é sem dúvida risivel...
quanto a nós...
estamos inteiros...
rindo de coisas mais interessantes
enquanto comemos pipoca e olhos cravados um no outro
desviamos nossos pés de uma baba podre no chão
era só um cuspe...
não era um grito
não havia torres
muito menos tortura...
apenas um palhaço idiota na porta gritando:
"Eu te salvo, princesa! Eu te salvo desse monstro!!!"
era só uma voz de desenho animado
um dublagem qualquer....
(...)