morto
Tenho rastros que não podem ser vistos pois pertencem à escuridão...
Não deixo de compor meus papéis, mas elimino qualquer possibilidade de usar uma máscara...
Olhos arregalados não enxergam a natureza de um olho cego...
qualquer realidade.... olhos que não funcionam mesmo escancarados
Mas do que saber temo o entendimento de tudo isso
Minha colisão não foi com o inesperado
Sinto a velha dor como mais alguma coisa que não posso rejeitar
como sempre não fico indiferente mas ignoro
Há pouco oxigênio mas consigo respirar aqui onde agora estou
Meu nariz que precisa de remédios para respirar inala meus subterrâneos
Odores que meu corpo é treinado a suportar
Meu corpo é um cadáver que repousa contendo uma realidade que não tive antes
Esforço-me a atravessar o túnel
Minha pele dói tanto que, estirada, destina-se a romper
Tempo não admite repetição
É uma experiência de dissolução
Minha intimidade com essas bactérias vorazes
Quanto a morte todos tem que morrer... o melhor é morrer da maneira que mais lhe agradar
É uma viagem de prolongada interrupção
sedados não sentimos raiva
Sou da mesma espécie da tristeza
Se hoje lhe visse bêbada... arrancaria a garrafa de suas mãos.... e beberia
Devo enfrentar a vida sóbrio mas a sobriedade é sem dúvida minha autodestruição
Ser sóbrio seria um sonho
Sempre existiram coisas a serem reveladas.... coisas que não servem para os vivos
procurar algo que desinfete seria penoso demais
pois meus ferimentos nunca seão curados pela limpeza
aqui onde estou agora não é possivel precisar o tamanho da chuva...
mas sei tudo sobre umidade
Estou exausto e não há qualquer possibilidade de distinguir em qual profundeza estou agora
Não há luz de qualquer maneira
é tão escuro que a própria escuridão não tem por onde fugir
mas ranjo os dentes e tenho certeza de minhas mãos arrancaram algo
Não consigo estabelecer relação entre essa escuridão e o motivo de estar aqui
Sei voltar à superfície
Não há nada que eu possa fazer por amigos mortos...
mas possuo força para descobrir algo a fazer por mim....
Tenho dois amigos mortos...
um que ressuscito todos os dias e outro... que mato todos os dias
Espero pacientemente após tanto atraso....
Meu hálito é um mar negro....
e não me incomodo porque aqui tenho um mundo imenso....
a superfície é entediante....
4 Comments:
" tem música aqui, ouça um pouco..."
Poesia das sombras,do longe e escuro coração em sombras...muito bom
Morte... Estivemos vivos algum dia, afinal?... Belo trabalho!
puta texto. já pensou na idéia de desenvolver esse tema para um monólogo?
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