1.26.2007

MINHA FELICIDADE É QUASE SEMPRE DOLOROSA....

arranco uma pedra fincada em minha pele...
e aceito essa crueldade sensual
minha delinquência sempre mantiveram meus olhos atentos
não reajo ao lugar comum de que toda vítima
espera constantemente uma vingança
o que possuo agora é uma maldade santa
que não destrói, mas equilibra
desafio minhas proibições
e revisto minha malícia com a experiência de ser descoberto
meus enigmas foram violados
meus heróis ajoelharam-se à minha frente
em uma espécie de renúncia cheia de desculpas
possuo em cada perna quebrada um princípio de seleção
nada é tão lógico quanto o impulso carnal
que revolta a razão...
que deixa a qualidade de amar à beira do impossível
é a impossibilidade que o torna pleno
amar é uma investigação de profundezas
minhas tentações serão puras se ausentes da posse
deixo a vitória profana a quem a deseja
amantes plenos são destrutivos....
porque a plenitude é o amor pelo irmão
Cada dia homem e mulher tornam-se iguais e fraternos
pouca coisa os distingue...
só alcançarão a plenitude na igualdade do espelho...
é quando dói
é quando se separam
nenhum ser suporta a perfeição
o amor é trágico à luz de meu ciúme
suficiente para haver renúncia
o tédio é uma festa incômoda
acompanhamos insetos batendo asas em nossos ouvidos
cada vez que desejo a carnificina perco sangue em minhas veias
a correção acontece com o tempo
é um erro de cálculo que a natureza cuida de nivelar
logo deixaremos a petulância original
os arrogantes são tolos e conseguem hipnotizar a si mesmos
não quero assassinar meus defeitos
preciso deles...
se eu disser que meus demônios são santos
na certa meus demônios seriam infelizes
Há venenos terríveis na exaustão
esforços artificiais paralisam a mente
estou nu depois da demolição
ando sobre os escombros
encontro pequenos objetos que havia perdido antes mesmo do prédio ruir
até mesmo a minha nudez pode ser um simulacro
sou incapaz de agir contra a minha natureza
quem ousa dizer que não é um foragido?
a culpa sempre nos pertence
quanto custa a simulação?
O que acontece com as mãos?
Há tantas rachaduras
e melancolias
e viagens de volta
todo esse silêncio é uma transfusão de sangue mútuo
qualquer existência será desprezada se negarmos a ela a compartilhação da desgraça....
ignoro e desprezo a compartilhação
é permitido destruir em prol da própria vida
assim são as guerras...
por fim
meus cômodos estão impecavelmente limpos...
já não sou um aprendiz do crime
muito menos coagido a roubar pelo bando de ladrões....
minha felicidade...
será quase sempre dolorosa...
(...)

1.17.2007

sangues que não cuspo mais


não perdoo minha própria fé
e esse sangue que não cuspo mais
e minhas perfurações de tiros imaginários...
não, não me corto
quando vem, conheço a junta de seus dedos
não há risos para que se escute
visto roupas que não me pertencem
meu reverso da lição é a minha capacidade de encontrar meus espelhos
baixo meus olhos e estou cheio de ternura
se vc desaparecer não acharei graça alguma
portanto não solte suas mãos de meus ombros....
mesmo que eu precise ir
nossas naturezas trágicas
meu apelo e minhas terras distantes...
pensamentos de como morreremos...
de como heróis são assassinados ou destinados à morte...
apaixonamos por jovens mortos...

guardo em mim o declínio de um imperadore romano...
destruidor.. decadente... bestial...
profundezas de meu coração dão espaço a uma bela imagem
de um herói decapitado
belo é o cadáver do lixeiro
Sair sem nenhum arranhão seria uma imperfeição não aceita por nossas naturezas....
meu corpo baleado e retorcido encontra prazer próximo a morte...
minhas premonições e cenas que aqui passam são irrecuperáveis
terei sempre meus relicários de peças quebradas
e terei sempre, pra eles, uma expressão obscena e de indisfarçada embriaguez...
meus ouvidos insistem nesse silêncio congelado e estrondoso sem o menor sentido....
mas sentido...
tenho rins que dilatam meus monstros
e hoje...
copio imagens defeituosas e corrijo-as a meu gosto....
....
(foto: Cleiton Pereira em cena de FRATELO)