12.19.2006

quero catar o lixo

recapitulemos
Da divindade à privada
é bom ter um trabalho...
ainda funciono em minha reserva afetiva
um contrato por tempo determinado
determinado ao infinito
e sem renovação
decerto alguém sentirá minha falta
o mundo está salvo enquanto houver janelas para meu corpo cair
obedeço com dignidade e quando entra eu saio
deixo limpo o local que pisarás
não há papel no banheiro
não me machuque por isso
o modo de eu morrer é minha prova de amor
metáforas de minha honra samurai
minha crueldade é um privilégio
minha boca está seca e não conheço meus limites
Será que lixeiros me aceitam?
Quero catar o lixo....

12.05.2006

a noite escuto gemidos que tem o tamanho de uma goteira na pia da cozinha
estivemos retorcidos
e nossa alma uma palavra limpa
tomo cuidado para não tocar-mos um no outro
não há o que ser esvaziado
a ternura que possuimos é a única dose para dormir
não me entrego ao sono... não devo... não morro
objetos sujos me comem a noite
Há um ponto no meio que me fatia duramente
engulimos alguma água suja
o osso dói como um inquérito sobre a umidade
não sei nada quanto as horas... não contei
resisto a tentação de trair Deus
estou encharcado e não vou dormir com essas roupas
logo a noite sairá a passeio
violarei minhas dores
um pacto estipulado com a resistência
a quase decisão da renuncia
a torneira que pinga... é um desperdício....

(...)