11.22.2006

desertos imaculados...

meu contorno é semelhante a um deserto
empobrecemos e perdemos a inocência
um deserto imaculado
as cores são menos perfeitas
e estamos à margem de um rio... em que é sedutor o afogamento
um sol habitual deu lugar a um sol cru como o coração
em nosso meio dia apenas um ar seco e doce...
o deserto sempre foi o mesmo
quanto ao vento invasor...
nasceu de si mesmo, continua consigo mesmo
acabará em si mesmo
nosso sol é inóspito mas não é inimigo...
nossa bagagem contém estoques de dores intermináveis
mas que acolhem
nosso sol é um coagulo que insiste em um horizonte
unico é cheio de paz
profundo
fundo
no tempo
mas é sol....
portanto não há esuridão
tudo é tão claro...
e renasce...
todos os dias....

o palhaço que tropeçou em si mesmo


curvados sobre os pratos comemos em silêncio
mas a vontade de rir é imensa
nossa despedida é nossa plenitude
nossa cumplicidade
e me distrai com medo e ânsia
o que acontecerá quando zerar o ponteiro do relógio?
o que acontecerá à partir dessa noite...
é inútil lidar com a dor...
é inútil a substituição
para dormir pratico insesto em minha alma
tomo meus comprimidos de resistência
o que me propõe em seus sonhos?
o que anda comendo?
mas um palhaço caiu da calçada...
de um degrau perto do esgoto
tropeçou em si mesmo...
ele pode fazê-lo impunemente?...
é a conveção moral do palhaço
um jardim onde ninguém passa
não possui a dignidade de ser mau pela natureza
é só um maquiado cheio de ruindades
não é um homem crescido muito menos um menino cheio de sonhos
um jovem bárbaro que supunha não ter obstáculos na subida
é uma ereção
em processo de "broxamento"...
ausente do interesse.... por interesse
sou eu que ele quer amar...
é a mim que ele tem como espelho...
são minhas coisas que ele quer ser....
faltou nele a dignidade da vergonha
ou pelo menos a santidade da arrogância pura
a criançada não achou graça
preferiram olhar os elefantes
nada... destinado a nada
cairá no esquecimento
e nem a força moral de voltar para a "quimica" de onde veio ele tem....
é sem dúvida risivel...
quanto a nós...
estamos inteiros...
rindo de coisas mais interessantes
enquanto comemos pipoca e olhos cravados um no outro
desviamos nossos pés de uma baba podre no chão
era só um cuspe...
não era um grito
não havia torres
muito menos tortura...
apenas um palhaço idiota na porta gritando:
"Eu te salvo, princesa! Eu te salvo desse monstro!!!"
era só uma voz de desenho animado
um dublagem qualquer....
(...)

11.19.2006

a gente se perde nesse mar todo....


estou do lado de fora do carro
e nem sei se me lembro da viagem
de fato sonhei com uma xícara de café
uma degustação inacabada
um liquidificador transbordando
eu que já não sinto frio nas sombras que me seguem...
eu que tenho medo de água
fico submerso na paz
enquanto nossos espelhos refletem nossas chuvas
a gente se perde nesse mar todo
não se agüenta...
a imensidão sem dores pra comer no jantar
tornamo-nos pueris
senis prematuros
crianças que não tem tempo para serem crianças
quero ver o sol...
quero lambê-la como nossos cachorros
dormimos juntos
como todo o resto que a noite trouxe
quebramos os copos
destruímos nossos objetos
e nossas gavetas...
engolimos as chaves que davam acesso aos objetos que cortam
eu que sempre me desajeito
flutuei comendo chocolates imaginários
e fotografias...
e chuvas que depois vieram

o menino...
o mar

e eu... por sua presença
tenho mãos que tremem

descobri que nossas mãos são delicadas

11.13.2006


quanto tempo escondidos...

sujos de tanta lama
alguns ratos nos estupraram durante a noite...
mas somente nu assim é que encontro imagens
é quando respiro
é quando vc vem
nossos corpos possuem defeitos
nossa vida possui bombardeios
mas nossas profundezas se encontram...
todos os dias...


11.03.2006

chupe-se...

foi fácil me apunhalar com sua garganta
ganhar era preciso
enquanto queria minha casa
enquanto queria minhas coisas...
conseguiu...
a arma que tinhas era eu mesmo...

e vc tão orgulhoso de sua imoralidade
recolheu-se...

azar o seu...

não se segurou em suas raízes...

porque estava suspenso em si mesmo
pendurou-se em meus galhos
caiu...

não há excessões
não existe nenhum direito especial à felicidade

tampouco a infelicidade
não há tragédia nem gênio

não há poesia aqui....
não merece tanto....
ria com suas pregas agora...
ria com seus 32 dentes
não existe nada concreto em seu pedestal indestrutivel...
não existe nada em seu estômago
submergimos...
e vc... esse esqueleto sem ao menos um escândalo

não pode construir com seus ataques

não lhe pertence nem a doença que achas que tem
não lhe pertence muito menos a irmandade
porque não é
vc não é...


espatifou-se em sua incapacidade
seu reflexo será sempre o outro e nunca sua própria imagem
tua referência é apenas o ódio que sente do outro existir

não tens humildade para lavar os pés dos que sangram
muito menos a capacidade de estar na cruz
mija nas plantas para dizer que são feias
não aguenta olhar para elas porque não olha nenhum objeto que lhe reflita verdades
o que terás de agora pra frente é apenas o seu pinto duro gozando em qualquer lugar...
não mais em minha casa
não mais para si mesmo

chupe-se
é o que lhe resta...

a merda quando cai assemelha-se a uma cobra
mas não é uma cobra
(...)